terça-feira, 25 de outubro de 2016

O Mercado De Trabalho Não Deveria Ser O Diabo Veste Prada


É muito comum que a gente veja pessoas por aí falando que o trabalho duro vai te levar para onde quer que você queira ir. Os TEDs da vida empolgam e fazem a gente querer trabalhar mais do que qualquer outra pessoa no mundo, abrir um zilhão de empresas, sair por aí citando Mario Sergio Cortella, acreditando que o tal hard work é definitivo para o nosso sucesso. A nossa inexperiência de jovens que mal sabem declarar imposto de renda faz a gente pensar que "na minha idade, meu pai já estava com três filhos e uma casa para cuidar e eu estou aqui vendo Netflix".

A culpa de nunca conseguir alcançar esse padrão Bel Pesce, desemboca em uma dedicação quase que integral às nossas carreiras. Carreiras essas que, diga-se de passagem, foram escolhidas quando a gente nem tinha 18 anos. Passamos boa parte das nossas vidas estudando para passar numa prova e investindo numa jornada que se aproximava daquilo que a gente achava que podia dar certo - sem nem saber o que é "dar certo".

Se por um lado há uma vozinha dentro da gente que diz, bem baixinho, que o caminho poderia ser mais tranquilo e com menos pressão, há um conjunto de vozes mostrando por A+B que o certo é se dedicar sem parar ao trabalho, porque já vai começar a contagem regressiva, e tem que empratar, e ainda falta o purê, e não vai dar tempo, corre, cinco, quatro, três, dois, parou.


Sim, chef

O seu amigo passa num trainee incrível, o outro recebe um prêmio, a outra desenvolve um aplicativo e fica rica da noite pro dia, o outro posta uma foto em Fernando de Noronha em plena segunda-feira às 11 horas da manhã e você está no escritório ou afogado nos livros se perguntando por que essa felicidade toda não rola com você. Os efeitos disso? Ou a inteira descrença de que algum esforço será recompensado ou então, a entrega total ao trabalho, dia e noite.

Mas para quem a gente se entrega? Onde a gente deposita a nossa energia? Com qual intenção? Ganhar um quadro de funcionário do mês numa grande corporação? Ser o melhor dos parafusos? Conseguir trabalhar tanto até que, um dia, o nosso filho consiga ir para a Disney? E, para isso, é aceitável viver num ambiente de tamanha pressão?



A verdade é que QUALQUER meio de trabalho pode ser mais gentil e menos hostil. Redações de jornal não precisam ser O Diabo Veste Prada para funcionarem bem, escritórios não precisam ser O Aprendiz para serem bem sucedidos, a vida não precisa ser esse eterno vestibular onde vence aquele que conseguiu sobreviver a tanta pressão, a tanto abuso. O cara que ostenta trabalho não deve ser mais valorizado como profissional do que o cara que consegue equilibrar as diversas esferas da vida e diz não a determinados abusos. Por outro lado, os empregos com áreas de convívio, coloridos e com mesa de sinuca no meio da sala também não devem esconder a tentativa de criar ali uma simbiose negativa entre vida e momentos de lazer.

Existem direitos trabalhistas que precisam ser preservados e não colocá-los em prática não significa maior entrega profissional. Eu não sou menos capaz do que o colega só porque eu saí no horário e ele ficou trabalhando até as 22h. A glamourização do profissional que só se diverte nas férias precisa urgentemente parar pelo bem de todos. A gente nasceu para ser feliz hoje, agora, neste exato minuto, e ser gentil com as outras pessoas no ambiente de trabalho não faz de você menos capaz.

É preciso que todos nós entendamos onde estamos desprendendo as nossas energias diariamente. É preciso saber que é OK falhar, ficar com preguiça, desistir de caminhos, fraquejar. Você não precisa passar por uma Miranda Priestly para entender que há coisas mais importantes na sua vida do que a empresa do seu chefe.

A sua saúde mental vale mais do que o que você faz para ganhar dinheiro.

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Tive inspiração para fazer este post depois de ler este anúncio de vaga um tanto abusivo para jornalista no site da revista Vogue Brasil.

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