
O que mais me fascinou em La La Land não foram as músicas, o romance ou aquela cena linda em que Emma Stone canta para tentar passar numa audição. Ok, isso tudo é muito bonito e me fez chorar por quase duas horas. O que realmente me cativou no filme é que os personagens de Emma e Ryan Gosling não são muito bons na dança, nem são cantores maravilhosos ou excelentes naquilo que se propõem a fazer. Para quem não assistiu ao filme, Emma interpreta uma aspirante a atriz ansiosa por seu breaking point e Ryan faz um músico, apaixonado pelo jazz e frustrado com os caminhos que a música está tomando. Os dois anseiam por algo grande, mas, quando olham para o lado, percebem que estão disputando uma corrida com pessoas mais qualificadas, mais bonitas, com melhores estratégias, mais bem sucedidas ou que não compartilham de seus ideais.
La La Land fala sobre dois sonhadores medíocres que estão cansados de batalhar para que as coisas deem certo. Se relacionou?
É natural que ao longo do caminho a gente projete futuros perfeitos que transformam a nossa vida numa batalha incessante. Vestibular, emagrecer, ser o melhor profissional, ter dinheiro. O mundo nos enche de estimulantes que nos fazem acreditar que o nosso sonho é maior que o de qualquer outra pessoa, que nós somos muito especiais e que se a gente colocar todo o nosso esforço neste plano, ele dará certo no final.
Spoiler: você pode não conseguir.
Você pode não passar no vestibular, pode não emagrecer, pode ser que você não seja o melhor profissional do mundo e aquele montante de dinheiro pode não entrar na sua conta. E está tudo bem.
Por mais frustrante que isso pareça ser, nem sempre nossos esforços serão recompensados. Eu, realmente, não queria ser o porta-voz que te diz isso porque eu confesso que, no fundo, eu ainda acredito que as coisas darão certo (alerta otimista incorrigível), mas estou tentando me habituar com a ideia de que, às vezes, o caminho leva a lugar algum.
Você já pensou na possibilidade de estar atirando sua flecha para o céu em vez de estar mirando no alvo? Ou já pensou que, às vezes, acertar o alvo não requer esforço, mas sim estratégia? Já parou para pensar que às vezes você pode dar tudo de si, lutar, se esforçar e mesmo assim perder?
Em vez da gente estar correndo desesperado e comparando o nosso rendimento com o das outras pessoas, acredito que o ideal seja continuar correndo, mas aproveitar esse caminho. Se a gente entende que perder e ganhar fazem parte da vida, o caminho se torna mais leve, lidamos melhor com as frustrações, temos mais controle daquilo que nos faz bem ou mal (o que pode nos direcionar melhor), somos mais gratos pelas coisas boas e ruins que acontecem com a gente e ficamos mais preparados para derrotas e vitórias e as consequências disso.
Encarar as frustrações como um momento de aprendizado pode ser uma ferramenta para tornar a vida menos turbulenta.
É muito decepcionante quando as coisas não seguem o roteiro que a gente montou na nossa cabeça - talvez por isso muita gente não tenha gostado de La La Land (spoiler) - mas entender, de uma vez por todas, que cada coisa tem sua hora para acontecer (incluindo aí o nunca) nos dá a percepção de que existe um número muito maior de caminhos do que a gente imagina. Eu sei, o coração até palpita de ansiedade quando alguém nos tira do eixo e nos diz que o caminho que a gente mira pode não ser o certo, mas, o que seria a vida senão essa grande abertura de possibilidades?
Essa música é muito útil para mim quando estou ansioso e eu espero que ela te ofereça o mesmo conforto.